Na terapia de casal, marido e mulher participam ativamente do trabalho, já que a decisão de buscar ajuda terapêutica foi ela compartilhada pelos dois e a ambos diz respeito.

Quando duas pessoas se casam, cada uma delas idealiza um tipo da nova família que deseja construir e que, geralmente e teoricamente, é muito diferente da sua família de origem. Isso porque, na prática, a nova família resultante será determinada mais pela cultura da família de origem do que pelos ideais de cada parceiro. E o que ocorre é que marido e mulher desejam impor sua cultura, isto é, os costumes, os valores e as ideias do tipo de família a que pertenciam. E os filhos em geral nascem no auge desta luta por uma terceira cultura, fruto de um delicado esforço de conciliação. Não raro, os filhos se tornam também um dos objetos da luta pelo poder entre os pais, uma espécie de povo a ser conquistado.

Não por outra razão, cada um, ao constituir família, leva para esse novo lar todos os conflitos existentes e não-resolvidos que vivera em sua estrutura familiar original. São conflitos ligados às matrizes de infância e às situações vividas pela pessoa nas mais diferentes ocasiões, todos à espera de entendimento e resolução.

Projeções de situações passadas, ressentimentos dos projetos de vida frustrados, sensações de inadequação ou incapacidade frente ao lar e suas exigências, sentimentos de vergonha ou culpa por desejos ou vontades não manifestas, conflitos entre papéis assumidos ou desempenhados – tudo o que faz do ser humano um ser infeliz costuma manifestar-se mais acentuadamente numa relação conjugal e familiar dando origem, então, aos conflitos tão comuns entre os casais, eliminando as possibilidades de correção dos desacertos, diminuindo as chances de felicidade e realização comum e impondo ao núcleo familiar uma situação de constante agressividade e insatisfação, com reflexos na esfera sexual, no comportamento e desempenho de papéis familiares, na educação dos filhos, na motivação profissional e na auto-avaliação de cada um.

Nesse modelo de terapia, o terapeuta age como mediador entre os conflitos, esclarecendo as dúvidas, encaminhando discussões, demonstrando os sentimentos de ansiedade, medo e culpa que permeiam as divergências, orientando sobre como trocar opiniões sem desavenças e levando os integrantes da relação a um maior e melhor conhecimento individual e mútuo, o que serve para aprofundar os vínculos porventura já existentes entre eles. Portanto, por esta via, buscam-se soluções e faz-se com que todos da relação familiar assumam suas próprias decisões, como família e individualmente, alargando a compreensão mútua entre todos e tornando as possibilidades de felicidade mais concretas e ao alcance de todos.

Jacques Lacan, em seu livro “A família”, assevera que “ a base da educação para a família é preparar as pessoas para uma coisa muito simples: conversar. Para conversar sobre tudo o máximo possível e ver como nem por isso a casa cai. Conversar, tanto o casal quanto os filhos, desde pequenos, em relação ao que são, ao que fazem, por que fazem, se gostam ou não gostam, se às vezes ficam com raiva, de quem e por quê. Assim, haverá na família não só essa livre comunicação de ideias, mas também de sentimentos, emoções, percepções, sensações: fiquei com raiva disto, gamei por aquilo, me emocionei com este gesto.”

“As relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.”
NIETZSCHE


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